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Algumas particularidades da Australia e ilações

Estando na Austrália para participar na visita de estudo sobre Desenvolvimento de Competências no Sector Mineiro, onde tenho uma apresentação, farei algum resumo sobre particularidades deste pais, com enfoque para a perspectiva económica, como é óbvio. Mas, pra começar, vou falar de questões de hábito e costumes.

Habitos e costumes

Para começar, o Australiano não diz “good morning”, mas sim “good day”. Nas conversas que tive, percebi que, para os australianos, a questão de igualdade de género é uma questão muito séria! O assédio sexual (verbal ou não e/ou físico) não é tolerado em quaisquer circunstâncias (insinuações sexuais do tipo és gostosa; aproximar-se demasiado e repetidamente ou esfregar-se contra a pessoa; importunar fora da hora do expediente; fazer comentários ou gestos sugestivos). Portanto, aqui, cuidado com a sua descontração no intercâmbio com as pessoas! Outras questões que fui me apercebendo nas conversas, é a questão de cinto de segurança no carro e cuspir na rua, formar bichas/fila para acesso de serviços/bens e, acima de tudo, disciplina do povo!

Portanto, se acha que estou a mentir, transgrida este modus vivendi na Austrália, particularmente nos principais centros urbanos (Sydney, Melbourne, Brisbane, Camberra, Perth e Adelaide) e vê o que te acontece!

O kangoroo é um animal simbólico na Australia. Outra particularidade é que, da mesma forma como os Nórdicos e português tem bacalhau, os australianos têm o salmão!

Em cada canto das cidades, estão disponíveis bicicletas que são para aluguer e, para o efeito, a pessoa insere as moedas necessarias e leva-a (portanto, o sistema é automatico). A devolução das bicicletas não é imperioso que seja no mesmo ponto (pode levar numa avenida e deixar noutra, desde que cumpra o tempo pelo qual pagou). Não há espaço para fuga porque tudo esta automatizado (uma espécie de car track). Estas bicicletas podem ser usadas para compras (tem um cesto para o efeito) ou para exercicios fisicos (o Australiano é, marcadamente, desportista praticante).  E, não so: aqui o law enforcement é séria! Sendo assim, nao vale a pena fugir com a bicicleta (só de exemplo, num dos bares, quando pedia uma cerveja, fui solicitado a apresentar o meu ID devido a questão da idade e, eu, não o tinha comigo. Resultado: sai sem a minha cerveja!).

Nas principais avenidas e durante a semana, não se ve congestionamentos de carro devido ao sistema de transportes públicos bastante eficiente. Muito pelo contrario, o normal é ver muitas pessoas, de e para o trabalho, a atravessar as ruas para ou do ponto do transporte publico.

A economia da Austrália

A Austrália é uma Federação que tem como Chefe de Estado a Rainha Isabel II (a mesma da Inglaterra). O Governo é chefiado por um Primeiro-Ministro (Tony Abbott). É a décima Quarta Economia mundial tem um PIB per capita de USD 62,370. A taxa de câmbio é Dollar Australiano por USD igual a 0,95 (AU$ é mais forte que USD). A sua população é equivalente a de Moçambique, com 23,3 milhões, embora com uma superficie de 7692 mil km2, contra apenas 799,4 mil km2 de Moçambique (Australia tem superficie 10 vezes maior que de Moçambique). O carvão representa 15% nas exportações totais, e é, maioritariamente, produzido em Queensland. O maior sector de actividades economicas é o de serviços com 69%, sendo a agricultura com menos de 5% do PIB. A taxa de juro media no levantamento de emprestimos situa-se a 6%, mas pode ser mais baixa quando se trata de crédito de longo prazo, como habitação (quando falei que a nossa situa-se a 19%, quase que cairam!).

Apesar desta economia ser é das maiores do mundo (o seu PIB está no 14º lugar no ranking mundial), o custo de vida para estrangeiro (nos estados em que estive Queensland-concretamente, em Brisbane, terceira maior cidade, New South Wales, concretamente em Sydney maior centro economico e Victoria, em Camberra, capital politica) é, significativamente, elevado (estou a basear-me no custo de uma refeição e outros produtos manufacturados como vestuário, em comparação com países que conheço como Espanha, Qatar, Tunísia e África do Sul, incluindo Moçambique. Num restaurante médio, um prato normal pode custar AU$ 35, onde 1 USD vale 0,95 AU$). Para os locais, o custo de vida não é grande problema devido ao seu elevado rendimento (em Queensland, o rendimento médio é AU$ 2,500.00/mês), financiado pelos altos rendimentos da indústria extractiva (carvão, urânio, ferro, aço, cobalto, cobre, ouro, etc, etc) e virada para exportação, e sendo a principal fonte de crescimento, em vez de bens manufaturados. Aliás, no Índice de Competitividade Global, a Austrália tem vindo a cair, year-to-year (vide o relatório da GCI 2014). Na minha opinião, apesar da qualidade dos Malls, não é um sítio ideal para compras (claro, para Países de Baixo Rendimento).

Uma curiosidade: A Austrália foi um dos poucos países da OCDE que conseguiu evitar uma recessão económica técnica durante a crise económica de 2008-2009.

Algumas ilações

Em primeiro lugar, se uma economia pretende reduzir o custo de vida, nada resolve-se aumentando o salário. Muito pelo contrario, a propria teoria económica diz que esse aumento de salário, a curto prazo, pode levar ao aumento de preços dado que trata-se do aumento do custo de um dos inputs ou factores de produção (trabalho). Se esse aumento não levar a melhoria nos ganhos de produtividade (que conduz ao aumento de produção, aumentando a oferta e relaxando os preços a medio e longo prazo), então teremos uma aspiral de preços a medida que aumenta o salário. Resultado, o custo de vida mantem-se ou agrava-se (esta é a sumula da Curva de Philips que é referencia na literatura macroeconómica sobre esta matéria). Olhando para o que acontece na Austrália, o custo de vida é combatido sob várias perspectivas: facilitação de acesso aos bens e serviços de forma eficiente (por exemplo, o crédito, transporte publico, meio de deslocação, etc, etc). No fim do dia, o Australiano não tem tanta necessidade de comprar um carro (aqui tens custo do combustível, manuntenção e custos de oportunidades crescentes devido ao choque que a compra de carro cria no orçamento individual, isto por se tartar de compra a vista, e perdas crescentes de tempo devido ao crescente congestionamento, o que reduz o fundo de tempo disponível para a produção e lazer).

Outro aspecto, é a questão do law enforcement: podem existir leis/regras, mas se as instituicoes não desempenharem o seu papel (convido a ler “The role of Institution in growth and development” de Daron Acemoglu e James Robinson[1]), então, dificilmente os processos fluirão de forma a que as pessoas alcacem seus objectivos sem ferir, grandemente, os objectivos de outrem.

Contudo, há um espectro de risco que a economia australiana padece: a fraca diversificação económica em termos de sectores produtivos. O sector de serviços, particularmente o financeiro, é o que mais cresce, depois do extractivo. Como sabe-se, a esgotabilidade dos recursos nos sectores extractivos pode perigar o bem estar inter-geracional. Portanto, precisa diversisficar mais a sua economia por forma a diversificar a fonte de financiamento do bem-estar local, actual e vindouro. Claramente, um dos seus desafios é estudar formas de aumentar o crescimento do seu sector manufactureiro, aliás, um desafio, também, presente em Moçambique!

[1]http://siteresources.worldbank.org/EXTPREMNET/Resources/489960-1338997241035/Growth_Commission_Working_Paper_10_Role_Institutions_Growth_Development.pdf